Cálice, Ditadura e Censura


“Pai, afasta de mim esse Cálice de Vinho Tinto de Sangue”.

Admirável Chip Novo não entrou para a trilha sonora de Morde & Assopra, nova novela da Rede Globo, como se especulava. Em compensação, a nova produção do SBT, intitulada Amor & Revolução, incluiu em sua trilha a versão que Pitty gravou com o Projeto Indireto da música Cálice, de Chico Buarque.
A Novela, escrita por Tiago Santiago, narra, em meio às dificuldades e alienações do período da Ditadura Militar brasileira, a história de amor entre José Guerra, o filho de um militar, e Maria Paixão, líder de um movimento estudantil contrário às novas instituições governamentais. Por estarem a favor de ideais opostos, seu relacionamento é posto em xeque, podendo ser comparado a um “Romeu e Julieta versão brasileira”.
Como um todo, além de se tratar de um tema pouco explorado nas produções brasileiras, o folhetim da emissora de Silvio Santos ganhou destaque devido à trilha sonora, que vai desde Caetano Veloso, Raul Seixas, Rita Lee, Milton Nascimento, chegando em Pitty e até Fernanda Takai.
A música Cálice está presente na produção tanto na versão de Chico – Com participação de Milton Nascimento, quanto na versão atual do Projeto Indireto, com participação de Pitty.
Poucas músicas melhores que esta poderiam ser escolhidas para ilustrarem o tema.
Durante a época da Ditadura, todas as produções culturais eram extremamente fiscalizadas pelo governo, pois nada que lhe dissesse contra poderia ser circulado.
Fazendo analogia à Paixão de Cristo, Chico utilizou de metáforas e ambigüidades da língua portuguesa para expressar seu sentimento e chamar o povo à luta. Observa-se a dualidade de sons na própria palavra “Cálice” (cale-se), demonstrando uma espécie de pedido para que a opressão e a censura fossem exterminadas.
Se você ainda não conhece a versão original, vale a pena procurar e baixar. Mais que apenas mais uma canção, Cálice é uma produção cultural que demonstra a genialidade de artistas que, hoje em dia, estão escassos.